Esplanada do café Farol, 17h20, Nazaré, 28 de Junho de 2006
Eduardo Hespanhol , funcionário dos CTT da Nazaré chega junto de uma mesa na esplanada onde estão alguns amigos seus, cumprimenta-os. Fica em pé, apesar de o mandarem sentar. A sua intenção é entrar no café, não ficar na esplanada. O que lhe chama a atenção em cima da mesa? Um maço de tabaco Marlboro de caixa prateada. Agarra nela e pergunta – Quem é que fuma isto aqui? - a resposta surge naturalmente enquanto começa a ler o que está escrito num dos lados da caixa, obrigatório por decreto lei – O fumo contém benzeno, nitrosaminas , formaldeído e cianeto de hidrogénio – e continua com afirmações próprias – E agora temos de ir ver ao dicionário o que isto quer dizer! Tanta coisa para dizer que o tabaco tá cheio de merda ! - Risada geral!
A lógica comico-simplista de alguém que conseguiu andar perto de derrotar o vencedor de um concurso de anedotas editado pela TV portuguesa há uns anos, ganho pelo famosíssimo e em declínio Fernando Rocha. O mesmo consegue tirar proveito das situações reais do quotidianas para fazer rir os outros. Quem estiver junto dele um bocado fica sem dúvida bem disposto.
07h02 da manhã, toca o telefone. O vigilante de serviço na portaria não reconhece o número que chama através da central, mas pelo indicativo identifica-o como sendo de perto. Atende. Diz o nome da empresa e um expressivo bom dia, como habitualmente: -G.V., bom dia! Se faz favor?
Do outro lado ouve-se um pedido, quase uma ordem: - Pode-me passar à zona fria!?
Faz-se silêncio. São poucos segundos, mas parece ser muito mais até o vigilante falar novamente, como se do lado de lá não viesse som algum, voz alguma, nada: - G.V., bom dia! Se faz favor?
- Pode-me passar à zona fria!? - ouve-se do outro lado da linha, desta vez com mais arrogância.
- Primeiro, isto não é nenhum “teletransporte” e depois, bom dia também para si, muito obrigado! Vou passar a chamada ao departamento da zona fria, não garanto é que você consiga lá chegar deste modo!
Nazaré, final de uma tarde solarenga. O vento começa agora a soprar mais forte, refreando o calor que até aí permitira um bom dia de praia para alguns estudantes e turistas, apesar de estarmos ainda em Abril. É mais uma maneira de se gozar o bom tempo que esta Páscoa nos oferece.
Numa das rampas de acesso à praia, em frente da Praça Sousa Oliveira (esplanada), um rapaz com cerca de 18 anos brinca com um cão que apesar do seu porte físico ainda é bebé. O rapaz faz “trinta por uma linha” ao pobre animal, que mesmo assim vai rodopiando, dando ao rabo, mordendo a trela que não o prende num acto contínuo de reciprocidade.
Outro rapaz a rondar a mesma idade está de parte encostado ao corrimão metálico que ladeia uma das partes laterais da mesma rampa, e ri, ri muito. Diz qualquer coisa imperceptível para quem está mais afastado. O outro parece entender, ri também. Continua a fazer umas palhaçadas com o animal e até o rabo lhe puxa. Do outro lado da rampa um casalinho de namorados também da mesma idade observa tudo aquilo. O segundo por fim diz para o primeiro algo verdadeiramente engraçado, a pedir uma reflexão filosoficamente mais demorada, “Eu não gostava de ser o teu cão!”
Daí a pouco aproximo-me e pergunto, “qual é a raça dele?”; “é um perdigueiro”, risada geral porque o dono do animal afinal não acertou na raça. “É um Labrador”, diz o terceiro rapaz, o elemento masculino do par de namorados, e todos eles riem muito. Afinal o suposto “dono” do animal só estava a tomar conta dele. O verdadeiro dono não estava ali naquele momento. Coitado do cão!